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Ressaca Emocional

  • Foto do escritor: Simone Demolinari
    Simone Demolinari
  • 5 de jan. de 2017
  • 2 min de leitura

O termo “ressaca” é originalmente usado para indicar o movimento de queda e recuo das ondas quando o mar está muito agitado. Uma espécie de fluxo e refluxo. Mas, de forma coloquial, o termo é popularmente usado para designar um estado de mal-estar pós bebida. Passado o torpor alcoólico, o corpo entra em declínio físico – a ressaca.

Assim como acontece com o mar e com o corpo, com o estado emocional não é diferente. Quando vivenciamos experiências de sofrimento, ruptura, mudança, situações traumáticas, perdas (tanto simbólicas quanto concretas), doenças, conflitos e outras dores emocionais, nosso psiquismo cria mecanismos de defesa para suportar o insuportável, reprimindo a dor. Um artifício inconsciente que busca preservar um estado de equilíbrio que não nos deixa “cair”. Porém, passado o problema, vem a ressaca emocional.

Não raramente ouvimos histórias de pessoas que, enquanto permanecia lutando contra um problema, mantinha-se firme. Porém, após a solução, esmorecem, apresentando forte queda emocional. Isso explica também os indivíduos que ao perderem um ente querido mostram-se firmes emocionalmente, como se não tivessem sentido o baque, mas, passado um tempo, caem em depressão. Outro exemplo são aqueles que, após um término de relacionamento, sentem-se fortalecidos e animados. Participam de festas mostram-se bastante felizes, porém, após um período, quando em tese a dor deveria estar menor, há uma considerável queda emocional.

A ressaca emocional é algo comum, contudo, é importante ressaltar que ela não ocorre com todas as pessoas. A queda emocional desencontrada do fato que gerou o sofrimento, somente acontece quando o indivíduo não consegue “elaborar” a dor. Entende-se por “elaborar” uma capacidade de perceber, compreender e assumir internamente o problema no ato em que ele acontece.

“Elaborar” não é fácil. É sempre uma vivência perturbadora. Por isso, o que mais ocorre, é deixarmos aliviar através da negação, tapando o sol com a peneira, evitando pensar no problema.

Contudo, esse estado de evitação não se sustenta para sempre. Muitos gostam de usar a expressão “agora que a ficha caiu”, mas essa ficha nada mais é que a ressaca emocional.

Experiências emocionais são tão impactantes que podem inclusive induzir estados fisiológicos cerebrais. Um estudo feito pela universidade de NYC apontou que a ressaca emocional pode influenciar a forma de como lidamos com nossas experiências futuras.

Funciona mais ou menos assim: cada vez que vivenciamos uma experiência emocionalmente negativa, essa memória é arquivada e nos tornamos indivíduos mais prudentes, medrosos ou até fóbicos. A se ver o pavor de relacionamento que algumas pessoas adquirem após um casamento ruim.

Não é à toa que os adolescente se arriscam muito mais que os adulto. Com menos experiências emocionais negativas na bagagem psíquica, eles não dispõem de memórias afetivas ruins. Já os adultos...

Vivenciar a dor, na medida que ela acontece, com honestidade emocional, evita o prolongamento do sofrimento.

 
 
 

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Psicoterapeuta com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado com linha de pesquisa em Anomalia Comportamental pelo ISCTE / Fundação Getulio Vargas.
Articulista do Jornal Hoje em Dia e Revista Exclusive.
Desde 2010 está no ar diariamente na rádio 102,9 FM; e desde 2014 semanalmente na 98 FM falando sobre comportamento.

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