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As pessoas mudam?

Muitos questionam a capacidade de mudança de um indivíduo. As dúvidas geralmente aparecem quando precisamos decidir se daremos outra chance a quem errou, se voltaremos a confiar em quem traiu nossa confiança. Nesse momento nos deparamos com um impasse: quem errou mudará ou voltará a incidir no mesmo erro? Trata-se de uma dúvida intrigante, pois há pessoas que erraram e mudaram, assim como há outras que reincidiram incansavelmente no erro uma vida inteira, sempre justificando seus atos. Ao contrário do que dizem os manuais da felicidade, mudar não é apenas uma questão de escolha. Dizer que a decisão de mudar já é meio caminho andado para solucionar o problema é um equívoco. Se fosse assim, seria fácil fazer dieta, parar de fumar, terminar relacionamentos doentios e assim por diante. Na verdade, decidir talvez seja o passo mais importante por ser o primeiro, mas não altera nada em termos de resultado. Após a tomada de decisão, começa um árduo caminho pelo qual não se sabe andar. Um caminho novo que, embora promissor, causa insegurança. Mudar não é fácil, é um processo complexo e demorado. Há quem afirme que mudou em um “click”. Isso é o que chamo de mudança estratégica: dura apenas o tempo do susto ou então tem a ver com o medo de perder as regalias. Devemos desconfiar daqueles que dizem que mudaram rapidamente porque a “ficha caiu”. Sim, a “ficha pode cair” rapidamente, no sentido da compreensão, mas o processo da mudança real passa por um longo e doloroso período de aprendizagem, conscientização, privação, humildade e muita força de vontade. Essa mudança só poderá ser comprovada através de atitudes realizadas ao longo de meses, quiçá anos. Mas, afinal, por que mudar é tão difícil? Nosso comportamento está alicerçado em convicções enraizadas ao longo de décadas e quando decidimos mudar precisamos ir além da ação; precisamos mudar, especialmente, a forma de pensar. Podemos comparar nosso jeito de ser a uma pirâmide, onde o topo (parte menor) significa a nossa forma de agir e a base (parte maior) representa nossas convicções. Dessa forma, só conseguiremos mudar o comportamento se mudarmos as convicções nas quais ele está alicerçado. Por exemplo: uma pessoa regida pela ideia de levar vantagem dificilmente exercerá uma conduta justa. Mesmo sabendo da ilicitude do ato, isso não será suficiente, pois a base da convicção é maior. Essa atitude deriva do fato de que as convicções estão de acordo com o código interno de conduta, com isso, não há a ação de nenhum freio moral. Nossas convicções funcionam como uma espécie de consciência: se agirmos de acordo com elas, não nos sentiremos incomodados mesmo que estejamos, notoriamente, fazendo algo errado. Alem disso, podemos usar a genial lógica do ganho secundário deixada por Freud: “Quando a dor é maior que o ganho o indivíduo muda”.

Psicoterapeuta com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado com linha de pesquisa em Anomalia Comportamental pelo ISCTE / Fundação Getulio Vargas.
Articulista do Jornal Hoje em Dia e Revista Exclusive.
Desde 2010 está no ar diariamente na rádio 102,9 FM; e desde 2014 semanalmente na 98 FM falando sobre comportamento.

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