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O fetiche pela fofoca

  • Foto do escritor: Simone Demolinari
    Simone Demolinari
  • 12 de jan. de 2017
  • 2 min de leitura

Entre os fenômenos sociais mais disseminados está a fofoca – o ato de especular e divulgar, sem confirmação verídica e sem consentimento, fatos e boatos sobre a vida de outra pessoa. A epidemia dos rumores parece não ter fim. Ela acontece no ambiente de trabalho, na escola, entre vizinhos, amigos, na família, na igreja. Não faz distinção de lugar, a única condição é que o alvo da fofoca não esteja presente. A fofoca apresenta três frentes a serem analisadas: a inveja, a diversão e o prazer. – Inveja: O indivíduo que gosta de espalhar maledicências contra alguém busca inconscientemente se posicionar acima dele. Carregam consigo a sensação de que se diminuir o outro seu valor aumentará. A hostilidade deflagra a inveja. O invejoso também usa a fofoca como uma espécie de arma, ampliando seu poder e com a finalidade de obter benefícios. Nem sempre a fofoca é direta, muitas vezes a agressividade é sutil. Uma farpa venenosa aqui, um comentário em tom de piada acolá e assim vai se reverberando em meio a demérito e desqualificação, a reputação de outra pessoa. No livro “O Mal, o Bem e Mais Além”, Gikovate cita “A agressividade sutil dirigida contra pessoas que nada fizeram, a não ser existirem e serem como são, é a marca registrada da inveja”. Portanto, há um vínculo forte entre a fofoca e a inveja. – Diversão: Pessoas com a vida desinteressante se divertem ocupando-se da vida dos outros. Quem fica entediado facilmente precisa de estímulo novo como mecanismo de distração e muitas vezes opta pela fofoca. Sente-se animado em saber o que anda acontecendo na vida dos outros. Isso explica o sucesso que faz as revistas e sites de fofocas. Ocupar-se da vida alheia, além de “divertido”, para essas pessoas, ainda tira o foco dos seus problemas. Uma forma rasteira de colocar colorido às suas vidas. – Prazer: Saber que o outro se deu mal, perdeu, separou, faliu, estranhamente provoca prazer em algumas pessoas. A satisfação que decorre da tragédia é facilmente perceptível no estado de euforia em como ela é compartilhada. Há uma espécie de hesitação verbal ao disseminar o fato. O tom de voz muda. As pessoas param o que estão fazendo para prestar atenção e depois passam para frente sentindo-se contentes em serem portadores, em primeira mão, da noticia. Isso também pode ser percebido na velocidade com que as más noticias correm. Já as boas, estão longe de conter o mesmo frisson. O prazer da fofoca pode ser percebido claramente no ambiente corporativo. Funcionários sentem-se satisfeitos quando o colega de trabalho se dá mal, é demitido, ou leva uma bronca. Há uma nítida satisfação na dor do outro. A fofoca é parte integrante da miséria humana e dificilmente será erradicada da nossa sociedade. Porém, cada um pode tentar combatê-la no estreito campo que lhe compete. Para isso, é preciso é desenvolver não só uma evolução pessoal, como ouvidos e bocas inteligentes: ouvido que não acredita em tudo que ouve e boca que não repassa o que não lhe diz respeito.

 
 
 

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Psicoterapeuta com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado com linha de pesquisa em Anomalia Comportamental pelo ISCTE / Fundação Getulio Vargas.
Articulista do Jornal Hoje em Dia e Revista Exclusive.
Desde 2010 está no ar diariamente na rádio 102,9 FM; e desde 2014 semanalmente na 98 FM falando sobre comportamento.

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