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O desafio de viver com pouco

  • Foto do escritor: Simone Demolinari
    Simone Demolinari
  • 22 de dez. de 2017
  • 2 min de leitura

Somos constantemente estimulados a consumir. A compra fácil e rápida como passaporte para a felicidade sempre esteve presente em nosso meio, mas ganha cada vez mais força, em tempos de internet.


Consumir em exagero pode estar associado à vaidade, à competitividade (as pessoas do meu convívio tem, eu não posso ficar atrás), ao exibicionismo, para atenuar a insegurança ou para encobrir um estado de profunda infelicidade e angustia. O “Pai da Psicanálise”, Sigmund Freud, apontou que, basicamente, o ser humano busca o prazer para evitar a dor. Mas é aí que mora o perigo.


O consumismo, que em tese nos parece prazeroso, é muito mais fonte de infelicidade do que de felicidade. O prazer que deriva do consumo é efêmero e não tem fim. Um tempo após consumir, vem uma nova necessidade, e depois outra – um buraco sem fundo. Além de toda essa dinâmica que permeia o consumo, ele ainda desperta inveja, cobiça e disputa, sentimentos diametralmente opostos à proposta de felicidade.


Não é à toa que há muitas pessoas extremamente consumistas, com o guarda roupas abarrotado de supérfluos, variedade de sapatos, bolsas, coleções de relógios, carros, e mesmo assim continuam insatisfeitas. Ao passo que outras, que vivem com pouco, se sentem mais completas. O consumo não preenche, o preenchimento é interno.


Nada mais apropriado que a citação de Schopenhauer: “A nossa felicidade depende muito mais do que temos em nossa cabeça, do que nos nossos bolsos”. Atualmente, muito se fala sobre a cultura “minimalista”, um estilo de vida simples cujo objetivo é se desfazer do excesso e viver com o que realmente é fundamental. A proposta é se livrar das pressões do consumismo compulsivo que a sociedade moderna nos impõe.


Muitos de nós já temos a consciência do nosso “excesso” quando afirmamos usar apenas um pequeno percentual daquilo que possuímos. Difícil é conseguir desapegar dos pertences.


A premissa “menos é mais”, ganha dimensão literal no minimalismo.


Sob a ótica racional, viver com menos, é mais vantajoso, mais prático, mais econômico. Casa mais vazia de móveis, de roupas, de papeis, mais espaço, mais dinheiro no bolso para viajar e aproveitar melhor o tempo. Com menos foco no material, abre-se mais espaço na vida para novos prazeres e experiências. A ideia de ser minimalista ganhou recentemente um documentário na televisão e tem atraído cada vez mais adeptos. O que não é nada mal em tempos de crise.


E você, o que acha da ideia de se desfazer daquelas coisas que estão há anos paradas no guarda roupas, na estante, gavetas, e no resto da casa e que você não usa mais, ou não tem utilidade nenhuma?

Muitas pessoas aproveitam a época de natal, para fazer doações de seus excessos. Mas é importante evitar o autoengano: desapegar, para lá na frente adquirir novamente, não é minimalismo, é apenas uma maneira de justificar um novo consumo.

 
 
 

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Psicoterapeuta com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado com linha de pesquisa em Anomalia Comportamental pelo ISCTE / Fundação Getulio Vargas.
Articulista do Jornal Hoje em Dia e Revista Exclusive.
Desde 2010 está no ar diariamente na rádio 102,9 FM; e desde 2014 semanalmente na 98 FM falando sobre comportamento.

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