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O vício da reclamação

  • Foto do escritor: Simone Demolinari
    Simone Demolinari
  • 14 de fev. de 2019
  • 2 min de leitura

“Infelizmente, tenho uma mãe que só reclama. Nada para ela está bom. Além disso, ela acha que ninguém a ama, que todo emprego é ruim; acha que ganha mal, odeia a cidade que mora, os amigos são falsos, o carro é ruim. Coloca-se como vítima o tempo todo, mas toda solução que você dá não serve para ela. Qualquer pessoa que chega perto dela, sai pior”.

Algumas pessoas são viciadas em reclamar. Adquirem esse hábito e não o largam mais. Aliás, só o intensificam ao longo da vida. Para elas, não existe nada bom. São moduladas para o negativo.

Não importa a situação, só enxergam a infelicidade, seja nas pequenas coisas ou em grandes acontecimentos. Haja o que houver, a parte negativa sempre vai se sobrepor à positiva. Podem estar no melhor lugar, num dia ensolarado, com vista deslumbrante, que sempre haverá um espaço para o culto ao problema.

Quem vive do expediente de reclamar geralmente mantém dois comportamentos peculiares: o vitimismo e a “terceirização da culpa”.

Vitimizar-se é uma arma poderosa do “reclamão”. Mas é importante diferenciar vítima de vitimista. Vítima é aquela pessoa cuja fraqueza foi explorada.

Mesmo tendo sofrido um dano, ela não reverbera seu problema. Cai e se levanta, sem muita queixa ou lamentação. Ergue-se novamente, com a própria força interior ou com uma pequena ajuda alguém. Já o vitimista é diferente. Não age em prol da solução; ao contrário, por conveniência, fica estagnado na reclamação para justificar sua infelicidade. Usa do seu problema (real ou imaginário) para obter privilégios. Apesar de reclamar o tempo todo, não quer ajuda; quer vantagens.

A reboque do vitimismo vem a “terceirização da culpa”, uma manobra covarde para se isentar de qualquer responsabilidade. O inferno são os outros. A culpa é sempre da sociedade, do chefe, do governo; menos de si próprio. Além disso, coloca-se no centro do mundo, pois considera os seus problemas os maiores e mais pesados.

O motivo que leva uma pessoa a agir assim é a necessidade de chamar atenção atrelada ao ganho secundário em levar vantagens. Reclamando, o eterno sofredor nunca precisará arregaçar as mangas e agir. Fica parado contando com a ajuda daqueles que se comovem e se solidarizam com ele. Espera receber aquilo que não dá. E quanto mais recebe, mais espera receber. E mais reclama das injustiças do mundo. Um buraco sem fundo.

Viver a vida se queixando das circunstâncias é um mau hábito que vai se tornando um traço marcante da personalidade de uma pessoa. Ao longo do tempo, o indivíduo se transforma numa pessoa negativa, mal-humorada e péssima conviva. Ninguém quer ficar próximo a alguém com o peso da negatividade.

Convém lembrar a essas pessoas que melhor que reclamar é enfrentar os problemas, reagir, ir à luta e poupar os ouvidos alheios. Isso não significa que devemos fingir que está tudo bem. É importante enxergar a realidade, mas igualmente importante é ter atitude para resolver o problema. De preferência, sem reclamar.

 
 
 

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Psicoterapeuta com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado com linha de pesquisa em Anomalia Comportamental pelo ISCTE / Fundação Getulio Vargas.
Articulista do Jornal Hoje em Dia e Revista Exclusive.
Desde 2010 está no ar diariamente na rádio 102,9 FM; e desde 2014 semanalmente na 98 FM falando sobre comportamento.

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