top of page

Compulsão por sedução

  • Foto do escritor: Simone Demolinari
    Simone Demolinari
  • 28 de jun. de 2019
  • 2 min de leitura

“Me familiarizei no vício de seduzir. Tenho uma noiva linda e que me completa, porém tenho algo dentro de mim que é muito difícil de controlar. Adoro blefar com as mulheres e acabo despertando o desejo delas em mim, porém quando a relação começa a se desenrolar eu dou um jeito de sumir. Nunca traí minha noiva, mas sei que sou um canalha. Luto contra isso todos os dias, não me orgulho de ser assim. Não sei como largar esse vício”. A compulsão por sedução ou síndrome de Don Juan é a necessidade constante de seduzir ou conquistar outra pessoa. Um comportamento reincidente onde o único objetivo é atrair e envolver a vítima, sem a intenção de manter continuidade. O nome Don Juanismo tem a ver com o famoso personagem Don Juan, que, segundo a lenda, era um jovem conquistador, impiedoso e cruel que buscava apenas a conquista e o sexo, abandonando as mulheres logo após atingir o objetivo. Portanto, é chamando de Don Juan aquele que faz de tudo para conquistar e, tão logo consegue, perde o interesse. Mas engana-se quem pensa que esta síndrome é apenas inerente aos homens. Pode ocorrer em ambos os sexos. Em mulheres é chamado de Don Juanismo Feminino. Uma característica peculiar é que quanto mais “difícil” ou “proibida” for a conquista, mais instigante ela se tornará. Mas nem sempre essas seduções são consumadas com sexo. Muitas vezes, só a certificação de que está sendo correspondido é o suficiente para que haja o desinteresse. Se o alvo da conquista mostrar-se indiferente, isso aguçará o interesse. Do outro lado, a vítima, que, ao receber tamanha demonstração de interesse, acaba facilmente seduzida e rapidamente apaixonada. Quem seduz, por sua vez, ao perceber que o alvo foi conquistado, vai, aos poucos, perdendo o interesse. Geralmente a vítima fica sem entender o que houve com todo aquele “amor”. O Don Juanismo é como se fosse um jogo, onde a graça é nunca alcançar o objetivo final, ou seja, não há interesse em ir para o “nível dois” da competição. Quem sofre dessa síndrome sente um constante vazio emocional. Porém, no jogo da sedução, não demonstra nenhuma preocupação com o sentimento alheio, ficando o outro a serviço do seu prazer.

​Ao contrário do que se pensa, os don juanistas não se mantêm solteiros. Gostam mesmo é de se casar. Mas o compromisso da união não traz o freio moral. O compromisso não é com a fidelidade e sim com a conquista

Mas por quê isso ocorre? Não podemos deixar de considerar uma forte ligação entre a necessidade de seduzir e a baixa autoestima. O mecanismo funciona assim: devido à sensação de menos valia, o indivíduo opta por conquistar o outro, no intuito de certificar para si mesmo seu próprio valor. Com o tempo, isso vai se tornando um vício que, de tão incorporado, começa a trazer prejuízos consideráveis para sua vida. Ao contrário do que se pensa, os don juanistas não se mantêm solteiros. Gostam mesmo é de se casar. Mas o compromisso da união não traz o freio moral. A conquista continua. Passa então a ser Don Juan, porém casado (a). O compromisso não é com a fidelidade e sim com a conquista.

 
 
 

Comentários


Psicoterapeuta com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado com linha de pesquisa em Anomalia Comportamental pelo ISCTE / Fundação Getulio Vargas.
Articulista do Jornal Hoje em Dia e Revista Exclusive.
Desde 2010 está no ar diariamente na rádio 102,9 FM; e desde 2014 semanalmente na 98 FM falando sobre comportamento.

Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook - Black Circle
  • Twitter - Black Circle
  • Instagram - Black Circle
bottom of page