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Formas sofisticadas de mentir para nós mesmos

  • Foto do escritor: Simone Demolinari
    Simone Demolinari
  • 22 de out. de 2020
  • 2 min de leitura

Quando nos deparamos com situações que nos causam dor emocional, usamos artimanhas psicológicas no intuito de atenuá-las: são os famosos “mecanismos de defesa”. Quanto maior o sofrimento, mais o psiquismo usa esses mecanismos em prol de seu conforto. Esse conforto é como falar mentira, mas só contando verdades, ou seja, um mecanismo muito sofisticado. E quanto mais inteligente o indivíduo, maior a sofisticação e mais difícil fica de desvendar a mentira. Em princípio, isso nos traz alívio, mas impede o real acesso a nós mesmos e à possível resolução.

Alguns mecanismos de defesa mais comuns:

- Negação - considerado um dos mecanismos de defesa mais comuns e menos eficazes, baseia-se em negar a existência da dor. Um exemplo clássico de negação são pessoas que ao receber um diagnóstico de uma doença grave acreditam que, no seu caso específico, o corpo reagirá de forma especial para eliminar aquele problema. Marcam compromissos ignorando a existência de qualquer enfermidade.

- Racionalização – trata-se da substituição da verdade por uma explicação aparentemente lógica que conforte a ansiedade. Uma espécie de fuga de si mesmo para não ter que se deparar com a realidade. Um bom exemplo é alguém que promete parar de fumar, mas não consegue manter a promessa. A partir daí ele passa a contar uma bonita história de uma bisavó que fumou até seus 98 anos e nunca apresentou nenhum problema pulmonar. O sujeito apoia-se numa verdade parcial para aliviar a promessa quebrada e não ter que assumir seu fracasso.

- Repressão - significa reprimir um desejo, que não está de acordo com o código moral interno, fingindo que ele não existe. Este mecanismo é muito comum em pessoas com uma rígida educação religiosa ou pais extremamente severos. Neste caso, optam por reprimir emoções ao invés de expressá-las. Na repressão há uma falsa crença de que o desejo irá desaparecer, mas isso não ocorre. Muitas vezes o que é reprimido pode surgir em sonhos, atos falhos ou em comportamento que foge do controle. Alguém com fortes desejos reprimidos também pode apresentar alta irritabilidade, somatização ou até quadro depressivo.

- Fantasia - aqui a pessoa imagina uma situação que, na realidade, é difícil de se concretizar. A partir daí um teatro mental é criado, onde a história é bem diferente da realidade. Um exemplo desse mecanismo é alguém que foi abandonado pelo par amoroso e passa horas imaginando mentalmente uma vingança contra ele ou se imagina ganhando na loteria e esnobando quem o largou. Ou se vê imaginariamente como um empresário multimilionário. São chamados de sonhos diurnos ou fantasias conscientes.

- Projeção - é o deslocamento de um impulso interno para outra pessoa. Ao invés de assumir o problema, projeta-o no outro. Um exemplo é alguém egoísta que atribui egoísmo ao outro, ou um indivíduo ciumento que culpa o parceiro de sentir ciúmes.

Tudo isso são “truques da mente” que podem aliviar momentaneamente o sofrimento, mas ao mesmo tempo são responsáveis pelo enfraquecimento da razão. O importante é decifrá-los para não cairmos nessa armadilha mental que só faz embaçar a realidade.

 
 
 

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Psicoterapeuta com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado com linha de pesquisa em Anomalia Comportamental pelo ISCTE / Fundação Getulio Vargas.
Articulista do Jornal Hoje em Dia e Revista Exclusive.
Desde 2010 está no ar diariamente na rádio 102,9 FM; e desde 2014 semanalmente na 98 FM falando sobre comportamento.

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