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Honestidade em tempos de mentira

  • Foto do escritor: Simone Demolinari
    Simone Demolinari
  • 3 de out. de 2019
  • 2 min de leitura

Disse John Powell: “A maioria das pessoas sente que os outros não vão tolerar a honestidade emocional na comunicação. Preferem defender a desonestidade, alegando que isso poderia ferir as pessoas, e, tendo acobertado a falsidade através da nobreza, iniciam-se, assim, relacionamentos superficiais”.


A desonestidade emocional ocorre quando escondemos quem somos para causar uma boa impressão, quando mentimos nossa real intenção para conquistar alguém, quando forjamos qualidades que não possuímos ou sentimentos que não somos capazes de sentir.


Algumas pessoas agem assim por “esperteza”. Sabem que mentir é o caminho mais curto para conseguir o que querem; com isso, usam e abusam da mentira. Estão preocupadas somente consigo mesmas. Sem freio moral, forjam qualidades e sentimentos no intuito de levar vantagem e desprezam por completo o sentimentos dos demais.


Outros agem com desonestidade por fraqueza. Ocultam quem são ou o que sentem por insegurança e medo. Temem o ridículo, o abandono e sentem verdadeiro pavor de não serem aceitos, uma vez que nem eles próprios se aceitam como são. Com isso, acabam simulando condutas e sentimentos que julgam ideais na tentativa de minimizar o risco de serem rejeitados.


Escondem as características que julgam ser fraqueza considerando que, caso se mostrem por inteiro, perderão a admiração do outro. Com isso, vivem encarcerados, fingindo ser quem não são. No início, pode até parecer uma boa solução, mas a longo prazo viram prisioneiros de si mesmos.


O problema de quem sustenta uma condição que não possui é que acaba adquirindo dois problemas ao invés de um: primeiro é ter que esconder a verdade e, segundo, ter que manter a mentira.


Não há ganhos, só perdas. Toda vez que somos desonestos com o outro, acabamos atentando contra nós. O espertalhão acredita estar levando vantagem, porém paga o preço de navegar somente na superfície. O mais fraco vive com a sensação de menos valia e insatisfeito com as próprias ações.


Uma pesquisa recente mostrou que as pessoas passaram a mentir de três a cinco vezes mais com a internet do que cara a cara. Mentir ficou mais fácil, pois se escreve mais e fala-se menos, o tom de voz não é avaliado assim como os sinais faciais e corporais. Além disso, a tecnologia proporciona uma distância psicológica de segurança. Mesmo conectados o tempo todo, estamos escondidos.


Em tempos de imagem editada, ter coragem de expor nossa verdade, mesmo que ela seja permeada por medos, fraqueza e insegurança, é uma ótima forma de começar uma relação. Quando somos honestos, conseguimos, desde o início, perceber como a outra pessoa vai reagir. Se houver um clima de acolhimento, pode-se nascer um ambiente de cumplicidade, parceria e ajuda mútua. Contudo, se no ato da confidência o interlocutor mostrar um ar de superioridade e um falso moralismo, já fica claro como será o nível da relação.

 
 
 

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Psicoterapeuta com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado com linha de pesquisa em Anomalia Comportamental pelo ISCTE / Fundação Getulio Vargas.
Articulista do Jornal Hoje em Dia e Revista Exclusive.
Desde 2010 está no ar diariamente na rádio 102,9 FM; e desde 2014 semanalmente na 98 FM falando sobre comportamento.

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