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O vazio de uma vida muito ocupada

  • Foto do escritor: Simone Demolinari
    Simone Demolinari
  • 26 de mar. de 2020
  • 2 min de leitura

O mundo todo está passando por uma situação bastante inusitada. O medo deixou todos em estado de alerta e obrigados a viver em situação de isolamento. O mundo está parado. O curioso é a letra de Raul Seixas, composta nos anos 70, fazer tanto sentido na atualidade.

Aguns trechos da música: “O dia em que a Terra parou foi assim. No dia em que todas as pessoas do planeta inteiro resolveram que ninguém ia sair de casa como que se fosse combinado em todo o planeta. Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém. O empregado não saiu pro seu trabalho pois sabia que o patrão também não tava lá. Dona de casa não saiu pra comprar pão pois sabia que o padeiro também não tava lá e o guarda não saiu para prender pois sabia que o ladrão, também não tava lá e o ladrão não saiu para roubar pois sabia que não ia ter onde gastar. E nas Igrejas nem um sino a badalar pois sabiam que os fiéis também não estavam lá e os fiéis não saíram pra rezar pois sabiam que o padre também não tava lá. E o aluno não saiu para estudar pois sabia o professor também não tava lá e o professor não saiu pra lecionar pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar. O comandante não saiu para o quartel pois sabia que o soldado também não tava lá e o soldado não saiu pra ir pra guerra pois sabia que o inimigo também não tava lá. E o paciente não saiu pra se tratar pois sabia que o doutor também não tava lá e o doutor não saiu pra medicar pois sabia que não tinha mais doença pra curar. No dia em que a Terra parou.”

É mais ou menos isso que estamos vivendo. Mundo parado, tempos de incertezas, inseguranças e aprendizados. Do ponto de vista econômico só o tempo dirá o impacto disso. Do ponto de vista emocional, algumas questões já se apresentam intensas. Uma delas é a incapacidade de ficar só, o atrito familiar gerado pelo excesso de convívio, ansiedade e tédio. A frase do filósofo grego Sócrates nos convida à pensar: “Tome cuidado com o vazio de uma vida ocupada demais“. Frase citada citada há pelo menos dois mil anos, e também muito oportuna com o momento atual.

Todos os dias, temos inúmeras atividades a desempenhar e reclamamos da falta de tempo. Parece que um dia é pouco perto das inúmeras obrigações, responsabilidades, somado às mensagens a responder, e-mails, casa, filhos, academia, etc. Agora, com tempo livre, nos vemos entediados e ansiosos. Uma reflexão se faz importante: será que ocupamos tanto nossa vida para não ter que lidar com as nossas emoções?

Vale a pena refletirmos se estamos “agitando” nossos dias para fugirmos de nós mesmos. Se for isso, este é um ótimo momento para voltarmos para dentro de nós, retomarmos conexões perdidas, estabelecermos harmonia em família, consumir menos, diminuir o ritmo, cuidar mais da saúde, dormir mais, comer melhor. Aproveitar também para colocar em prática as “palavras da moda” tantas vezes repetidas, mas nem sempre vividas: resiliência, gratidão e empatia. Estamos vivendo uma ótima oportunidade de avançarmos emocionalmente rumo a nós mesmos.

 
 
 

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Psicoterapeuta com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado com linha de pesquisa em Anomalia Comportamental pelo ISCTE / Fundação Getulio Vargas.
Articulista do Jornal Hoje em Dia e Revista Exclusive.
Desde 2010 está no ar diariamente na rádio 102,9 FM; e desde 2014 semanalmente na 98 FM falando sobre comportamento.

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