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Pessoas que não levam "desaforo para casa"

  • Foto do escritor: Simone Demolinari
    Simone Demolinari
  • 15 de ago. de 2019
  • 2 min de leitura

A expressão “gênio forte” é usada para definir pessoas que reagem, com certa agressividade, às situações que as desagradam. Ou seja, só são calmas e tranquilas quando tudo vai bem, caso contrário, viram “bicho”. São reativas, agressivas e explosivas. O estouro, de tão intenso, costuma causar medo nas pessoas que os cercam. Muitos, principalmente aqueles que sofrem as agressões, costumam avaliar essa característica como típica de pessoas fortes, que têm coragem de se posicionar. Um equívoco!


Se avaliarmos com cautela, conseguimos perceber que essas pessoas são fortes na medida que usam a sua força (intimidação, gritos, agressividade) para calar o outro e fazer valer suas vontades. Reagem como crianças mimadas que não podem ser contrariadas. Brigam, fazem escândalo e impõem, na base do grito, seus desejos. Afinal, isso é ser uma pessoa forte? Absolutamente não.


Pessoas assim gostam de dizer: dou um boi para não entrar numa briga, mas se eu entrar, dou uma boiada para não sair. Tenho lá minhas dúvidas! Pessoas com perfil explosivo, dessas que não levam desaforo para casa, são tão reativas que parecem mesmo que dão um boi para brigar e uma boiada para continuar brigando.


Essa reatividade deriva de um mecanismo que é ativado cada vez que algo o desagrada. É o famoso “pavio curto”. Sua natureza atrituosa o estimula a brigar mesmo quando está errado. Um instinto primitivo que reage a um impulso involuntário.

Para essas pessoas, o senso de justiça é unilateral. Não há prevalência de empatia, nem qualquer entendimento da razão alheia. Somente seu ego ferido é que dita as regras.


Essas pessoas são fortes na medida em que usam a força (intimidação, agressividade, gritos) para calar o outro.


Curiosamente, essas pessoas se cercam de outras de natureza apaziguadora que, na maioria das vezes, acabam cedendo e concordando para evitar atritos maiores. Estes, os apaziguadores, apesar da boa intenção, acabam reforçando o mal comportamento dos brigões.

Aqueles que não são capazes de tolerar frustrações e por isso reagem com agressividade não tem nada de forte: são fracos. Não conseguir dominar a si mesmo é fraqueza. Forte é aquele que ouve, pondera, e, através das suas convicções internas, consegue se manter sereno frente às condições adversas.


Grosso modo, o forte parece fraco: é quieto, discreto, silencioso, mas sábio. Há uma lenda que ilustra bem esse comportamento: certa vez um aprendiz se dirigiu ao Samurai e perguntou: - “mestre, como o senhor pode suportar tanta ofensa sem reagir sendo que possui uma espada e podes vencer qualquer luta?” E o samurai respondeu: “se alguém chega até você com um presente e você não o aceita, a quem pertence o presente?”. “A quem tentou entregá-lo”, respondeu o aprendiz. E o mestre continuou: “o mesmo vale para as ofensas e os insultos. Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carrega consigo”.

 
 
 

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Psicoterapeuta com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado com linha de pesquisa em Anomalia Comportamental pelo ISCTE / Fundação Getulio Vargas.
Articulista do Jornal Hoje em Dia e Revista Exclusive.
Desde 2010 está no ar diariamente na rádio 102,9 FM; e desde 2014 semanalmente na 98 FM falando sobre comportamento.

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